15.5.10
O Umbigo Nosso de Cada Dia
Cada um com o seu,
O umbigo nosso de cada dia
Em torno do qual tudo gira, tudo acontece, tudo permanece.
E somos deuses com nossos umbigos, preocupados que estamos com nossos negócios, nossas mazelas, nossa escuridão, nossa podridão.
Não, ninguém há de saber o que se passa, pois somos só nós e nossos umbigos.
Os senhores da vida e da palavra.
Donos da verdade e da falta dela quando convém.
Donos da dignidade que ninguém vê.
Passeamos, pés acorrentados aos fantasmas do passado, e
as marcas, juramos, ninguém as tem tão profundas e sulcadas, sangrando nossa última gota do sangue já gelado.
Ninguém.
Não olhamos para o lado, para o que agoniza caído ao chão, não.
Porque nossa dor, ora, é infinitamente maior.
Quem é fulano, com seu umbiguinho tão pequenininho para se achar no direito de sofrer mais, ou acreditar que sua dor seja maior?
Não.
Gente estúpida!
Quanta gente estúpida!
Restamos eu, e meu umbigo.
E a dor, que é minha por merecimento.
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